Dizem que havia um cego sentado na calçada, em Paris, ah, como deve ser bela a cidade de Paris. Aqueles cafés, o croissant quentinho com café. Eu posso até sentir o cheiro! Mas vamos volta a história desta metáfora, porque as metáforas têm um poder de cura e ressignificação que vai além de nossa razão. Eu quero contar uma coisa importante para você. Uma metáfora é para ser sentida com o coração.
E eu quero que você traga esta história para você. Eu quero que você viva os personagens, e até mesmo pense, “esta história é minha, ela está falando de mim”. Não importa se você seja homem ou mulher, mas eu sei que você vai se identificar com um dos personagens, eu sei, e você deve viver isso.
Então conta esta história que o cego estava sentado na calçada com um pedaço de madeira, uma tábua quadradinha e clara com os seguintes dizeres: “Por favor, me ajude, eu sou cego”.
Só esta frase ou cena já é de cortar o coração, das pessoas mais sensíveis, porém, um instante de emoções ainda mais intensas está por vir.
Passou então pelo local um rapaz que manjava muito de marketing, um publicitário e que fazia a criação de anúncios tocantes, para grandes empresas, ele parou e viu umas poucas moedas no boné. Até pensei que ele ajudaria dando algumas notas de dinheiro, como ele parecia ser rico, e claro, podia ajudar mais aquele homem. Mas ele não fez isso, ele deu dinheiro algum.
E sem pedir licença pegou o cartaz do homem, virou o verso e pegou o giz e escreveu um outro anúncio. Colocou a plaquinha aos pés do cego e foi embora sem dizer uma palavra.
Ao cair da tarde parisiense, o publicitário voltou do trabalho e passou em frente ao cego que pedia esmolas. Mas a surpresa foi que agora o boné estava cheio de notas e moedas.
Então aquele cego reconheceu as pisadas, porque ele tinha olhos de ouvir, e muito curioso queria saber o que estava escrito no cartaz.
– Foi o senhor que escreveu aqui na minha plaquinha? – perguntou o cego.
– Sim, fui eu. – Respondeu o publicitário.
– E o que o senhor escreveu?
– Isso talvez não importe… Mas como você se sentiu.
– Eu no começo fiquei muito bravo por alguém ter mexido nas minhas coisas. Eu estava aqui sem incomodar ninguém, mas as pessoas são más e estão a todo momento mexendo comigo. Poucas pessoas estão dispostas a ajudar. Sabe, eu fiquei muito bravo mesmo com o senhor. Eu pensei que o senhor tivesse rabiscado toda a minha plaquinha. Mas o dia foi passando e eu percebi que comecei a receber mais ajuda. E eu passei da braveza para a curiosidade, e então não sei de onde veio esta felicidade… Pensei que o senhor poderia me contar agora o que aconteceu.
– Bem, disse o publicitário, o que eu escrevi não é importante. Eu escrevi o mesmo que você, mas com outras palavras…
E o publicitário bom embora.
Talvez alguém pudesse ter lido para o cego a nova mensagem, ou talvez ele nunca soube. O importante é que ele teve a oportunidade de refletir sobre o próprio comportamento, mediante a uma situação imprevista.
E eu pensei também em não contar para você o que dizia o cartaz. Talvez você também fique bravo comigo, mas esta não foi a minha intenção. Mas eu sei que isso pode ser muito importante para você. O cartaz dizia : “Hoje é primavera em Paris, e eu não posso vê-la.“