Era bem uma vila muito seca, e a única forma para aquelas pessoas conseguirem água era um poço que ficava há bem uns quinze quilômetros de distância daquela vila. Assim, não havia água encanada, e não havia torneira para se abrir. Hoje esta distância nem é tão grande assim, mas naquele tempo eles não mediam distância não por metros, mas por tempo. Então, era mais ou menos meio dia para ir e o restante para voltar.
Então um carregador de água levava dois baldes grandes, cada um deles pendurados na ponta de uma vara que este carregador colocava sobre os ombros arqueados. Ele fez isso a vida toda, e parecia que sempre foi uma pessoa com corcunda.
Então um dos potes tinha um rachadura, enquanto o outro era perfeito, e sempre chegava ao seu destino cheio de água, ao final daquela longa jornada de volta do poço até o vilarejo. Já o pote rachado chegava bem mesmo só pela metade.
E essa jornada de idas e vindas do vilarejo até o poço era feita pelo homem corcunda por pois longos anos. Ele viajava um dia sim, e no outro também, ou seja, todo santo dia ele carregava água para a vila.
E claro, o pote perfeito estava muito orgulhoso de suas realizações, porque ele se sentia o pote perfeito.
Já o pote rachado, percebeu como era um pote com defeito, se sentia inferior e pensou que nunca poderia ser um pote perfeito. Ele disse essas palavras com amargura para o homem a beira do poço:
– Estou envergonhado, e quero te pedir desculpas – disse o pote rachado.
– Por que? – Perguntou o homem – Do que você está envergonhado?
– Nesses dois anos eu vazei metade da minha carga, porque essa rachadura no meu lado fez com que a água vazasse por todo o caminho…
O homem ficou triste pela situação do velho pote, e com compaixão falou:
– Quando a gente voltar para casa, quero que veja as flores ao longo do caminho.
E de fato, à medida que eles foram caminhado pela estrada, o velho pote rachado percebeu que as flores do campo estavam belas e abundantes, e isso lhe deu um pouco de animo. Mas ao fim do longo caminho, o pote ainda se sentia mal, porque continuava vazando a metade da água, e pediu novamente desculpas pela sua falha.
Então disse o homem ao pote
– Você notou que pelo caminho só haviam flores no seu lado? Quando conheci a sua característica, não penso que seja um defeito, eu lancei semente de flores ao seu lado do caminho, e a cada dia, enquanto voltávamos do poço, você estava regrando estas sementes, até que elas se tornaram lindas flores.
