Havia uma pequena cidade nas colinas do coração do estado, e um homem trabalhava duro puxando carroça, carregando sacos de café da estação, e algumas vezes pertences de pessoas que resolviam mudar para outra cidade.
Pedro era o nome deste homem, e era filho de João. Quando jovem era visto como um menino trabalhador, calado, mas estava sempre envolvido nas lidas do dia a dia.
Os anos passaram depressa no começo, e logo Pedro se casou com a moça mais bonita da cidade. Ana, era o nome dela, muito vaidosa e também geniosa. O casamento foi um acontecimento na pequena cidade. Houve tudo de bom e de melhor. Pedro era filho único, e chamou seu pai para morar com o casal nos primeiros anos do relacionamento, e logo o primeiro filho nasceu.
Algumas vezes a vida de um casal não tolera outras pessoas e o relacionamento de Ana com o sogro não foi leve. As discussões abalaram a relação do casal, até que um dia Ana chama seu marido de lado e lhe pediu uma escolha, entre ela o pai de Pedro.
É nesta hora que até as pessoas mais estudadas sentem um nó na garganta e um aperto no coração. Só o que pode ajudar são lições de vida.
Pedro pensou muito e naquele dia não teve forças para ir trabalhar. Sabia que tomaria uma decisão muito difícil. Ele caminhou até o barracão no fundo de sua casa, abriu a porta e ela rangeu como se também chorasse por dentro. Pegou um couro de boi e saiu para encontrar com seu pai. O velho homem estava sentado perto do fogão a lenha, pensativo, com um pedaço de palha na mão.
Pedro, com palavras engasgadas falou:
– Pai, eu vim aqui para lhe pedir e não tenho orgulho do que vou lhe dizer. Mas eu preciso lhe pedir. Hoje aqui de casa o senhor tem que sair. Ir morar em outro lugar. Este couro de boi. Leve. Acabei de curtir, para servir de coberta onde o senhor for dormir.
O Pai não disse uma palavra. Parece até que sabia o que haveria de ser. Pegou com tristeza o couro de boi, e pela estrada foi saindo. Pedro viu seu pai caminhando, ele saiu pelo portão e já chegava perto da estrada. E então um fato curioso, viu seu filho correndo em direção ao avô.
João olhou para o neto com compaixão, com um sorriso triste nos olhos.
Agachou e ouviu atentamente o neto. Passou a mão em seus cabelos e pegou um canivete que estava dentro do bolso. Estendeu o couro no chão e o partiu ao meio, entregando a metade para o menino. E então o avô foi embora daquela casa.
Pedro sentia lágrimas correr de seus olhos, estava de coração partido e não teve reação. Assistiu calado, até seu filho retornar com a metade do couro. Não sabia o que falar para o garoto, pensou em brigar. Sentiu ainda mais pena de seu pai, e sabia que não tinha o que fazer. Olhou para o seu filho com tristeza por algum tempo calado. Venceu o silêncio e perguntou para o garoto o motivo daquele pedaço de couro. E o garoto respondeu.
– Um dia papai, eu vou me casar. Vou ser igual ao senhor, e me casar com a mulher mais bonita da cidade. E o senhor vai vir morar com a gente. Vou também ter filhos, e um dia o senhor também vai ficar velho. Pode ser que aconteça que a gente também não vai combinar. E esta metade do couro vou dar para o senhor levar.
Adaptação da Música Couro de Boi : Sergio Reis
Roteiro: Marcelo J Bresciani
Crédito das Imagens ao Próprio Autor
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